Parábola dos Trabalhadores de Última Hora

Autora: Cristiane Fioravante Reis (NEPE Nas Rotas do Cristo/FEEGO)

1Porque o reino dos céus é semelhante ao pai de família que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. 2Depois de combinar com os trabalhadores um denário por dia, mandou-os para a vinha. 3Tornando a sair pela hora terceira, viu outros que estavam na praça, desocupados, 4e disse-lhes: ‘Ide também vós para a vinha, e eu vos darei o que for justo’. 5Eles foram. Tornando a sair pela  hora sexta e pela hora nona, fez a mesma coisa. 6Saindo pela hora undécima, encontrou outros que lá estavam e disse-lhes: ‘Por que ficais aí o dia inteiro sem trabalhar’? 7Responderam: ‘Porque ninguém nos contratou’. Disse-lhes: ‘Ide, também, vós para a vinha’. 8Chegada a tarde, disse o dono da vinha ao seu administrador: ‘Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário começando pelos últimos até os primeiro’. 9Vindo os da undécima hora, receberam um denário cada um. 10E vindo os primeiros, pensaram que receberiam mais; mas receberam um denário cada um também eles. 11Ao receber, murmuravam contra o pai de família, dizendo: 12‘Estes últimos fizeram uma hora só e tu os igualaste a nós, que suportamos o peso do dia e o calor do sol’.  13Ele, então, disse a um deles: ‘Amigo, não fui injusto contigo’. Não combinamos um denário? 14Toma o que é teu, e vai. Eu quero dar a este último o mesmo que a ti. 15Não tenho o direito de fazer o que quero com o que é meu?Ou estás com ciúme porque sou bom’? 16Eis como os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos”.

Mateus 20: 1-16 [1]

A semelhança de várias outras passagens evangélicas, há diversos simbolismos presentes na Parábola dos Trabalhadores da Última Hora.  O “reino dos céus” não consiste em um paraíso em determinado espaço físico. Ele representa a aquisição da transformação interior, adquirida por meio do trabalho no bem que cada Espírito é convidado a realizar na obra da Criação Divina [2].

A bela alegoria do “pai de família” nos remete a “Deus” [2, 3, 4] e a manifestação providencial de sua solicitude para com todas as criaturas [5]. Ele está em toda parte, tudo vê, tudo preside, mesmo as coisas mínimas [5].

A “vinha” representa a “humanidade” ou “Planeta Terra” [2, 3, 4, 6].  É na seara terrena que são encontradas as diversas oportunidades de aquisição dos valores morais indispensáveis ao crescimento evolutivo do ser espiritual.

No labor da vinha, os “trabalhadores” são retratados com diferentes capacidades e eficiências [3], sendo o mérito de cada um deles aferido pela produção, pela dedicação ao trabalho e não pelo número de horas trabalhadas [7]. Em sentido profundo, pode-se dizer que o trabalho expressa a aquisição das virtudes [3]. Entretanto, por diversas vezes, os trabalhadores têm negligenciado o convite ao labor [2], o que causa implicações diretas na marcha evolutiva de cada um [8].

A unidade monetária daquela época era o “denário”, salário equivalente a um dia de trabalho [9]. Em sentido espiritual, o denário é pagamento ao trabalho realizado com entusiasmo, alegria e disposição, que produz a paz de consciência e o sentimento de dever cumprido, ou seja, se refere a uma conquista espiritual [2].

Naquela época, a jornada de trabalho compreendia doze horas. Assim, a primeira hora – o início do expediente – correspondia às seis horas da manhã; a terceira hora, nove horas; a sexta hora, doze horas; a nona hora, quinze horas e a décima hora, dezessete horas [2]. Nota-se que nos são apresentadas diversas oportunidades de trabalho na seara no decorrer de um dia, semana, mês, ano ou de uma existência. Entretanto, as “horas” podem também ser interpretadas como às diferentes existências ou frações de ciclos evolutivos [4], o que faz alusão à reencarnação [3]. No decorrer das “horas” e a cada um segundo “seu momento evolutivo” e “suas obras”, o Senhor tece o convite para o trabalho na seara. Portanto, essa parábola representa um cântico de esperança para todos, haja vista que Jesus deixa claro que qualquer tempo é oportuno para cuidarmos do aperfeiçoamento de nossas almas [3].

Na humanidade são encontrados espíritos com diversos graus de consciência ou níveis evolutivos. Há desde os escravos do dinheiro, ou seja, aqueles que são totalmente apegados à matéria até os operários do progresso que executam determinado trabalho por amor à arte [7], ou seja, com entusiasmo, disposição e alegria. Entretanto, deve-se mencionar que todos os Espíritos foram criados simples e ignorantes e estão destinados à evolução espiritual [8,10], com necessidades de provas e lutas diversas para a aquisição de fortaleza e burilamento [7]. Neste sentido, existe a importância da permanência e persistência do obreiro [7]. As condições essenciais dos trabalhadores a serem desenvolvidas no decorrer da marcha evolutiva são constância, desinteresse material, boa vontade e esforço [7], de forma a viverem em plenitude o amor tão bem descrito na Lei de Justiça, Igualdade e Caridade [8].

Referências

1.        Bíblia de Jerusalém. 3º ed. São Paulo, SP: Editora Paulus, 2011, 2206 p.

2.        CERQUEIRA FILHO, A. de. Parábolas terapêuticas: uma abordagem psicológica transpessoal das parábolas e outros ensinamentos de Jesus. 2º ed. Santo André, SP: EBM Editora, 2012. 305p.

3.        CALLIGARIS, R. Parábolas Evangélicas: à luz do Espiritismo. 11º ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. 112p.

4.        MOUTINHO, J. J. Conquista do Reino. Brasília, DF: Editora Recanto, 2000. 249 p.

5.        KARDEC, A. Gênese. 93 ed. 1 imp. (Edição Histórica). Brasília, DF: FEB, 2013. 409p.

6.        EMMANUEL (Espírito). O Evangelho por Emmanuel – comentários ao Evangelho Segundo Lucas/ coordenação de Saulo Cesar da Ribeiro da Silva. 1º ed. 1º imp. Brasília, DF: FEB, 2015.367p.

7.        SCHUTEL, C. Parábolas e Ensinos de Jesus. Matão, SP: Casa Editora O Clarim, 2012. 512p.

8.        KARDEC, A. O Livro dos Espíritos: filosofia espiritualista. 93 ed. 1 imp. (Edição Histórica). Brasília, DF: FEB, 2013. 526p.

9.        DAVIS, J. D. Novo Dicionário da Bíblia: ampliado e atualizado. São Paulo, SP: Editora Hagnos, 2005.1304 p.

10.     KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 131 ed. 3. imp. (Edição Histórica). Brasília, DF: FEB, 2013. 410 p.